terça-feira, 11 de maio de 2010

Parceiros da sarjeta


MendigoeCachorro

Maltratados pela sociedade, mendigos e cachorros abandonados encontram conforto na companhia um do outro

Desprezados pelos passantes, escondidos em becos e ruelas, de costelas salientes, vivem de lixo em lixo procurando comida. Água? Bebem da poça, de um cano estourado. Não tomam banhos, não têm onde se deitar para dormir, não têm onde se abrigar do frio. Provavelmente nunca receberam um abraço sincero, vivem da malandragem. E, apesar disso tudo, são cães dispostos a amar e pessoas que perderam a fé formando uma parceria bastante sincera.

Qualquer um que passe pela Avenida Moraes Salles, em Campinas SP, durante a tarde há de encontrar uma família curiosa: João (nome fictício), 26, e suas duas parceiras, uma cadelinha preta e uma malhada de marrom e branco. O trio fica na Praça dos Maçons pedindo dinheiro para sobreviver. João espera o sinal fechar para bater de vidro em vidro, eventualmente vendendo alguma guloseima. Mas é só a luz verde brilhar que ele volta para a grama e se deita ao lado das cachorras, com uma mão em cada cabecinha peluda. Se o dia foi bom, é possível ver os três correndo pela praça atrás de um pedaço de pau, ou rolando na grama em cena típica de filme. No inverno, as cachorras estão sempre de blusão, às vezes mais confortáveis que o próprio amigo humano.

Trocando o interior paulista pela capital carioca, a cena que comoveu em 2009: o reencontro do menor de idade chamado pela mídia de L., 13, e a cadela Pretinha. Depois de compartilhar as marquises da Central do Brasil, os dois se tornaram amigos inseparáveis. Porém, como na realidade nada é feliz para sempre, L. foi retirado das ruas pela Operação Choque de Ordem e levado para um abrigo que não aceitava animais. Do lado de fora do furgão policial, sua parceira arranha a porta desesperada. No mesmo dia, L. escalou o muro do abrigo, passou pelos cacos de vidro no topo e saiu em busca da amiga. O reencontro, fotografado pelo repórter André Luís Mello, foi selado com lágrimas e lambidas. “Eu até aceito ajuda dos outros, desde que a Pretinha fique comigo”, disse L. ao jornal O Dia.

A tristeza do menino e de Pretinha

A tristeza do menino e de Pretinha quando foram separados.

Já no sul do país, litoral catarinense, o assunto virou conto de pescador. Segundo o blog Adorável Vagabundo, diz a lenda que um mendigo de certa idade e seu parceiro canino percorriam as praias cristalinas vivendo de restos ou da boa vontade de contribuintes. Repartiam tudo, dormiam abraçados sob a lua. O homem, surrado pela vida e pelo relento, adoeceu. O cachorro montou guarda ao seu lado, onde permaneceu muito depois de o homem morrer. Não se arriscando a sair para pegar comida ou água, o animal acabou definhando ao lado do cadáver em decomposição. Hoje seus ossos sumiram na areia, mas à meia-noite de lua cheia, “eles aparecem se olhando, como a única riqueza da eternidade sendo o brilho da lua”.

Fonte: www.obafloripa.org/blog

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